domingo, 5 de junho de 2011

O Retorno de Lilith





Temos dois momentos nesse tema e que precisam ser tratados de forma clara.
Enquanto homens e mulheres, temos nossas realidades existenciais.
Nestas realidades estamos inseridos numa sociedade que tem o pseudo-patriarcalismo como norma.
Digo pseudo porque o que temos na civilização dominante não é o patriarcal, mas uma paródia do mesmo.
Assim como os mercenários a soldo dos países poderosos não podem ser chamados de guerreiros, no sentido taoísta e xamânico do termo, não podemos chamar de patriarcal esta sociedade, que tem no despotismo, na valorização dos valores desequilibrados dos conquistadores suas referências.
Somos uma civilização criada para gerar escravos.
De vários níveis, mas escravos a servir um sistema, servir a Matrix, doar nossa energia vital para manter o sistema que aí está existindo.
Portanto sair dessa prisão é romper com os paradigmas que nos mantém atados a mesma.
E é um longo processo.
O paganismo tem uma diferença fundamental das crenças judaico-cristãs.
O ser humano não é especial, à parte da natureza.
É parte integrante da natureza, nem mais nem menos.
Assim somos unos com a vida.
Enquanto homens temos características que nos marcam.
As mulheres tem as suas.
A Deusa não é apenas feminina, é o principio feminino e mais que isso.
A mulher não é tudo que a Deusa é.
A mulher precisa se trabalhar muito para recuperar a sintonia com a Deusa e depois seguir trabalhando para deixar a condição de fêmea dos primatas e continuar sua fusão com a energia feminina da existência.
Assim como o Deus não é apenas masculino. É o principio masculino e mais que isso.
Nós, homens, temos que nos trabalhar muito para recuperar a sintonia com o Deus e deixarmos de ser apenas a condição de macho dos primatas e continuar nossa fusão com a energia masculina da existência.
Todos trazemos em nós energias masculinas e femininas.
Biologicamente, somos levados a manifestar a energia masculina, se somos homens, e feminina, se somos mulheres, mas existem homens profundamente femininos e muitas mulheres masculinas, quer manifestem isso sexualmente também ou não.
Enquanto seres humanos nada mais sério e profundo que encontrarmos o equilíbrio dessas forças em nós, mas ao final, mesmo no nível que o casamento alquímico, interior, o Hierogamos sagrado foi realizado, o homem continua sendo homem, embora não mais um simples macho primata e a mulher continua sendo mulher, embora não mais uma simples fêmea primata.
Entraram em fusão com outros aspectos.
E neste nível, neste plano o equilíbrio perfeito é mais que necessário e bem vindo.
Isto é uma estância.
Mas no xamanismo também reconhecemos que a energia feminina é mais predominante na existência que a masculina.
Mais longe, os xamãs de várias linhagens consideram a própria existência feminina.
Mesmo biologicamente a mulher tem um papel muito mais complexo que o homem no manter da vida.
É claro que é fundamental a existência de ambos para "criar" um novo ser.
É o homem que estimula a vida que seguiria potencial.
Sem o esperma, semente, do homem o ovo não vingaria.
Mas, uma vez "ativado" o processo, a participação da mulher é muito maior.
É um fato.
Nenhum homem corre riscos durante a gestação de seu filho.
Nenhum homem tem enjoos, problemas de coluna, engorda enfim tudo que acompanha a gravidez.
Nenhum homem amamenta a cria.
E mesmo que o leite materno não venha e seja substituído por leite de cabra ou vaca é uma fêmea que está na história.
Isso não "diminui" o homem, a meu ver apenas nos localiza em nosso contexto real.
Para os xamãs de várias linhagens a energia predominante na existência é feminina.
A matéria original é feminina.
Por isso a Deusa aparece com mais poder que o Deus.
Mas isso de forma alguma quer dizer que devemos deixar a ligação com o Deus de lado e nos focarmos só na Deusa, pois isso seria perceber a parte e não o todo.
Algo profundamente desequilibrado.
É que falar de Deus e Deusa já me soa muito antropomórfico, parece que estamos falando de Jeová e Nossa senhora, imagens feitas a semelhança do ser humano para indicar o que está além da forma.
Se colocarmos que o principio feminino é predominante na eternidade fica mais claro.
O principio masculino é mais raro.
Na própria espécie humana sabemos que há muito mais mulheres que homens e note que países como a China e tantos outros fundamentalistas islâmicos buscam sofregamente um "varão" como herdeiro.
Falando ainda dentro dos paradigmas do xamanismo vem outra questão.
A mulher tem um elo mais fácil com a eternidade.
A intuição faz parte dos atributos femininos.
Nós homens temos que trabalhar para desenvolver essa outra abordagem.
Por isso que temos maior domínio sobre ela.
Fomos nós que estudamos e sistematizamos processos para o trabalho mágico, que nas mulheres é natural e sensível.
Daí que toda religião fundamentalista tem uma necessidade muito grande de afastar a mulher de seu centro de poder.
Vejam que as grandes religiões dessa era de escravos não tem mulheres fortes e elas só tem respeito dos cleros pseudopatriarcais quando são servis, como a virgem que gerou a semente de deus em si, logicamente resultando num "varão".
Sim, ambos, homem e mulher, são sagrados. Sim, ambos precisam se harmonizar de forma equilibrada e equipotente quando do casamento sagrado.
Mas o mundo, a existência é mais que o ser humano, e nesta amplitude pelo que estudei e sinto a energia feminina de fato é o estofo onde nos apoiamos.
Daí que isso reflita na visão pagã da Deusa e seu consorte.
Aí vamos para a outra questão.
Quando uma mulher se submete a um homem ela não apenas perde seu poder. Ela se torna a fonte de poder do homem.
Quantos homens dependem totalmente de uma relação vampiresca com a companheira para seu sucesso, daí o ciúmes doentio e o medo constante de perder sua "fonte" de energia.
É claro que uma troca justa entre pessoas maduras é mais que recomendável, mas isto ocorre?
Raramente.
E tem outro ponto que é ainda mais polêmico e só comento porque alguns autores, entre eles alguns taoístas e alguns xamãs já publicaram sobre o que me exime da responsabilidade de ser o primeiro a falar sobre isso, coisa sempre delicada.
Antes um detalhe.
Quando falo xamanismo estou falando do ramo que estudo. Se vocês dizem que o termo Wicca é um guarda chuva sob o qual muitas linhagens agem, o termo xamanismo é daqueles guarda-chuvas de hotel.
E precisar a fonte das tradições é delicado, pois o termo Maia é equivocado demais, pois os Maias existiram num tempo antes do aceito pelos registros históricos modernos, sendo os Maias por estes citados os que chamamos Maias históricos, que herdaram a forma, mas não o conteúdo da ampla civilização maia.
Astecas eram conquistadores, como os romanos, que tomaram as terras e a cultura dos conquistados, muito deturpando, criando sacrifícios de sangue onde antes havia outra coisa.
Incas então é um termo completamente equivocado, chamar de Incas o povo que se desenvolveu em certa região dos Andes é como chamar de Faraós todos os egípcios.
Que não dizer então das sofisticadas civilizações da Amazônia que não construíram monumentos em pedras (os que ali existem ainda perdidos são de civilizações mais anteriores) e não deixaram "vestígios" classificáveis pela arqueologia?
Assim uso o termo genérico xamanismo para especificar as linhagens as quais estou exposto, com o cuidado de deixar claro que o tema é amplo.
Bom, o fato é que nestas linhagens consideramos que a mulher não apenas gera e amamenta o ser, mas sustenta o homem também energeticamente através do ato sexual.
Só um homem que trabalha bem sua sexualidade e sua energia realmente oferece para a mulher uma "troca justa de energia".
Os que não fazem isso na realidade sugam a energia feminina durante o orgasmo.
Lembro-me quando uma garota do meu grupo questionou a Marta sobre isso.
Ela explicou que as mulheres por processos seus tem mais facilidade de guardar energia que os homens, até por terem útero, um órgão mágico.
Assim é normal que esta energia a mais vá se acumulando, se a mulher não sabe levar essa energia para outras oitavas num trabalho consciente acaba que tal energia afeta o emocional e o mental.
Ai a mulher se sente "elétrica", com "muita energia", irriquieta.
Daí que após ficar com um homem essa energia extra é toda levada embora.
Aí ela vai considerar que está bem, quando na realidade foi vampirizada.
Se a mulher em questão não pretende nenhum trabalho transcendente de beleza, foi mesmo um equilíbrio, mas se pretende ir a esferas mais amplas da percepção, tchau, vai demorar bem, pois a energia suplementar necessária lhe foi tirada.
O tema é amplo, complexo, mas vale a pena abordar.
Aí vem minha total concordância quando se diz que se a mulher não rompe com o vício de crer que o homem amado é o centro de sua vida e para o qual ela deve viver nunca chegará a bruxa nem a xamã.
Falo isso observando as mulheres do meu grupo, como isso é fato.
Isso não quer dizer que a mulher não vai estabelecer uma relação sagrada de troca e harmonia com um homem, apenas não vai fazer dele o centro de sua vida, sua única meta, como via de regra as mulheres fazem, por terem sido condicionadas a fazer.
E nós, homens, temos que redimensionar nossa visão da mulher, da companheira, aceitando que não somos o centro da vida das mesmas, somos seus companheiros, se somos aves livres voando nos céus nenhum dos dois é o centro, o prazer de compartilhar o voo é que nos une.
Tive uma namorada que dizia ser a melhor relação a suplementar, não a complementar, pois quando precisamos de outra pessoa para nos complementar é sinal que não estamos inteiros e vamos sempre ter medo que a outra parte, a "cara metade" vá embora e nos sintamos menos que inteiros de novo, palco fácil para ciúmes, crises e tudo mais.
Se somos completos em nós não estamos em busca, da "cara metade", este mito platônico que tanto já confundiu. Estamos em busca de outra pessoa também inteira, também plena para partilhar conosco a aventura fantástica e empolgante que chamamos vida.
Ora, se somos inteiros não haverá insegurança, medo de perder, ciúmes doentio.
Aí podemos "viver e deixar viver".
Sem medos, sem ranços.
Só quem já viveu relações assim vai entender como isso é demais.
Aceitar a mulher na sua total liberdade é o passo para nossa plena liberdade também.
E não se esqueçam que sou um escorpião, com toda a possessividade de um, daí que fique claro que não foi em dois dias que consegui atingir essa visão das coisas, que isso não me caiu do céu, mas após anos de árduo trabalho interior.



Fonte: Caminhos Pagão

Um comentário:

  1. Adorei o seu texto, traduz muita coisa do que eu penso a respeito disso. Ao longo da história parece que conseguiram "demonizar" muitos dos aspectos do corpo feminino. Ao invés de nos juntarmos houve uma hierarquia para sustentar sistemas destrutivos.

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